A escritora mineira Ana Maria Gonçalves foi eleita nesta quinta-feira (10) para ocupar a cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), em uma votação que consagrou um momento inédito na história da instituição: pela primeira vez, uma mulher negra passa a integrar o quadro de imortais da academia, fundada há 128 anos.
Publicitária de formação, Ana Maria abandonou a carreira na comunicação para se dedicar integralmente à literatura. Aos 55 anos, ela se tornou uma das vozes mais relevantes da ficção brasileira contemporânea, sendo autora do romance Um Defeito de Cor, obra considerada por muitos críticos como o livro mais importante da literatura brasileira do século XXI. Lançado em 2006, o livro venceu o prestigiado Prêmio Casa de las Américas em 2007 e, recentemente, inspirou o samba-enredo da escola Portela no carnaval do Rio de Janeiro em 2024.
Na votação da ABL, Gonçalves recebeu 30 dos 31 votos possíveis, superando outros 12 candidatos. A cadeira estava vaga desde o falecimento do gramático Evanildo Bechara. Com a eleição, ela se torna também a mais jovem integrante da atual formação da Academia.
A repercussão da escolha foi imediata. Celebrada como um avanço simbólico na diversidade e inclusão do cenário literário brasileiro, a eleição de Ana Maria trouxe à tona debates sobre representatividade e identidade. Sua obra explora temas como escravidão, racismo estrutural, ancestralidade e resistência, oferecendo uma narrativa potente sob a perspectiva negra e feminina sobre a história do país.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou publicamente, afirmando que a ABL "acertou em cheio" ao eleger a escritora, e destacou a importância de sua literatura como instrumento para compreender as mazelas sociais e históricas do Brasil. A entrada de Ana Maria Gonçalves na ABL não é apenas uma vitória pessoal, mas um sinal de transformação em uma das mais tradicionais instituições culturais do país.
