Podcast Taís Paranhos

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Polícia vai investigar ligação de assassinos de moradora de rua com grupos de justiceiros de Copacabana

O titular da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, Daniel Rosa, responsável pela investigação sobre o assassinato da moradora de rua Fernanda Rodrigues dos Santos (foto), de 40 anos, disse nesta quinta-feira que vai investigar a possível ligação dos assassinos com grupos de justiceiros de Copacabana, na Zona Sul do Rio. Cláudio José Silva, de 37 anos, que é lutador de MMA; e o estudante de Medicina Rodrigo Gomes Rodrigues, de 24 anos, foram presos na terça-feira. O delegado afirmou ainda que, após a prisão da dupla, recebeu informações que podem ajudar a descobrir a ligação deles com algum desses grupos.

— Nós já temos conhecimento de que, de fato, existiram em outras oportunidades agressões a moradores de rua na localidade da Zona Sul. Estamos tentando identificar a ligação desses dois criminosos, presos no dia 14, com esses grupos de extermínio daquela localidade, que tem essa ideologia errada e combatida pela Polícia Civil de tentar tirar de forma violenta e equivocada aqueles moradores de rua da região. Algumas informações após a prisão deles, com a colaboração da sociedade, das redes sociais, da mídia em geral, trouxeram informações de sites que divulgam esse tipo de violência, desse tipo de atitude. A partir de então estamos também trabalhando com essa possibilidade e investigando para saber se, de fato, há uma ligação entre esses grupos de justiceiros da Zona Sul com o Rodrigo e o Cláudio — disse o delegado.

Daniel Rosa também informou que a polícia apura duas linhas de investigação, entre elas a de crime de ódio, de extermínio de moradores de rua. A outra tem a ver com a versão apresentada por Cláudio, que foi desacreditada pela polícia, de que ele foi agredido com o arremesso de uma lata de cerveja por um homem que estava ao lado da vítima e que, por isso, foi em casa, pegou a arma e disparou. Imagens de câmeras de segurança mostraram que não houve agressão, e que os dois acusados chegaram ao local sorrindo e assim saíram de lá.

— Nove dias após a morte da Fernanda, a polícia registrou o homicídio de um outro morador de rua, dessa vez incinerado e carbonizado dentro de um túnel em Copacabana. Em razão dessa proximidade de espaço e de tempo, nós trabalhamos com a hipótese de terem sido esses dois os responsáveis por esse crime. É prematuro ainda a gente falar qualquer coisa sobre o outro homicídio acontecido nove dias após a morte de Fernanda. Porém, não descartamos essa hipótese dos dois estarem relacionados com esse outro crime — suspeita Rosa.

O delegado também contou que Cláudio resistiu a prisão quando os policiais chegaram ao seu apartamento, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Segundo Daniel Rosa, Cláudio atendeu a polícia com o trinco na porta, e ao receber voz de prisão correu para dentro do apartamento.

— Conseguimos arrombar a porta e ao entrarmos demos de cara com um cachorro Pitbull. Ficamos apreensivos, pois não sabíamos a reação do animal. A sorte foi que ele correu para o quarto onde estava Cláudio. Ele pode ter tentado jogar fora a droga que encontramos na sala, quase meio quilo entre cocaína, crack e maconha — contou.

Havia uma outra equipe de policiais em busca de Rodrigo nas ruas. Mas para a surpresa do grupo que estava com Daniel Rosa, Rodrigo foi até o apartamento de Cláudio para comprar drogas e foi preso. Os dois serão indiciados por homicídio qualificado pelo fato de o crime ter sido praticado sem chance de defesa da vítima e por motivo torpe. A pena pode chegar a 30 anos de prisão. Cláudio também responderá por tráfico de drogas, já que foi preso em flagrante com grande quantidade de entorpecentes em seu apartamento.

Segundo Daniel Rosa, Cláudio tem seis anotações criminais, entre elas agressões físicas. Rodrigo não tem antecedentes criminais no Rio, porém o delegado disse já ter solicitado a polícia do Paraná informações sobre ele. Natural de Maringá, Rodrigo estava no 10º período de medicina numa faculdade particular da Zona Sul do Rio. Segundo informações obtidas pelo GLOBO, ele tem um histórico de depressão.

Jornal O Globo (Rio)