sábado, 26 de julho de 2025

A Voz Calada da Menopausa no Brasil

 
 O silêncio que envolve a menopausa brasileira ganhou voz por meio da pesquisa “Desafios e Percepções da Mulher na Menopausa”, conduzida por Katia Marchena, jornalista e mestranda na Unicamp. Com mais de mil mulheres ouvidas, o estudo revela o apagamento midiático e social que marca essa transição corporal, vivida por cerca de 20 milhões de brasileiras entre 43 e 59 anos.

Apesar de episódios pontuais como o depoimento da apresentadora Fernanda Lima — que trouxe os "fogachos" da menopausa à tona — a cobertura jornalística permanece condicionada ao brilho passageiro da fama, sem continuidade ou aprofundamento. Mais de 60% das entrevistadas afirmam que há falta de informação sobre o tema, e quase 40% sentem que a imprensa trata a menopausa de forma superficial ou alarmista.

🎓 Alta escolaridade, baixa representatividade
A pesquisa contou com uma amostra majoritariamente formada por mulheres com ensino superior ou pós-graduação (cerca de 80%). Mesmo assim, 70% já ouviram comentários preconceituosos vindos de outras mulheres. O estigma se estende ao ambiente profissional, com 8% relatando exclusão no trabalho. Além disso, 35% não conversam sobre o tema nem com familiares ou parceiros, revelando uma barreira relacional profunda.

🔍 Silenciamento e resistência
Para Marchena, o silêncio imposto é uma forma de manipulação. “Essa palavra não dita também é o silêncio que nos atravessa enquanto mulheres”, diz. A pesquisadora propõe o termo “desmenstruação”, inexistente nos dicionários, mas presente nos corpos e vivências. Mais do que o fim de um ciclo menstrual, desmenstruar seria, segundo ela, “uma travessia” — um novo modo de habitar o corpo, o tempo e o mundo com autonomia e liberdade.

📢 O desafio de escutar
Durante a pesquisa, cerca de uma centena de mulheres procuraram Marchena em privado, demonstrando a urgência de espaços seguros para dialogar. “Elas estão dispostas a falar, então temos que abrir canais para ouvi-las”, defende. A jornalista também chama atenção para a necessidade de homens compreenderem esse processo, como parte da construção de uma sociedade mais empática.

💬 Palavras que libertam
Para além do debate médico, o artigo propõe um novo olhar cultural e afetivo para a menopausa, denunciando sua invisibilidade e propondo que nomear a experiência é também existir e resistir. “Liberdade, companheiras, é o maior dos poderes”, encerra Marchena.

Fonte: Agência Bori