Por trás das câmeras, na quietude de um ateliê ou no calor de um set em comunidade, o ator e diretor Júlio Andrade constrói seus personagens como quem esculpe em madeira: com intuição, entrega e múltiplas camadas de expressão. Da marcenaria à pintura, passando pela direção em séries aclamadas como Sob Pressão e Betinho, Júlio encontrou na pluralidade artística não só um refúgio, mas parte essencial do seu processo criativo.
“Pintar é o meu jeito de meditar. Enquanto a mão brinca com a tinta, a mente está nos personagens, nos filmes. É ali que começo a construir tudo”, revela o artista, que recentemente criou um quadro inspirado em Escola Sem Muros, seu novo trabalho no cinema.
A direção surgiu quase como um convite natural. Primeiro, pela escuta apurada e acolhedora com os colegas de elenco. Depois, pelo olhar atento que já costurava cenas de dentro. “Quando um ator chegava nervoso no set, eu dizia: respira, o tempo é seu. Traz pro coração”, relembra. Essa sensibilidade não passou despercebida. Em plena madrugada no Rio, recebeu o convite inusitado: “Quer dirigir dois episódios?” O sim veio entre risos, incredulidade e um pouco de whisky — e marcou o início de uma nova jornada.
No comando de episódios de Sob Pressão e, mais adiante, da série Betinho, Júlio se dividiu entre o corpo da cena e o olhar externo, em parceria com o diretor Felipe Binder. “Ele do lado de fora, eu do lado de dentro. Foi uma dobradinha massa”, resume.
Fora dos sets, o artista se entrega à marcenaria, onde molda peças que, de forma quase silenciosa, ajudam a dar vida aos seus personagens. “É uma arte secundária, mas essencial. Está em tudo que eu faço.”
Em um raro instante de pausa — entre um quadro recém-pintado, o burburinho dos bastidores e um convite para um espetáculo de ópera no Teatro Santa Isabel — Júlio Andrade segue como quem sabe que criar é um estado de presença. E que, mesmo em silêncio, o corpo já está em cena.