sábado, 20 de dezembro de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba

Gaudete: a alegria que atravessa gerações
Uma imagem herdada, o rito da bênção e o retorno do sagrado ao espaço doméstico

Por Mariângela Borba

Olá, leitor do #SendoProsperidade, tudo bem? Trago hoje uma reflexão bem condizente com o nosso período natalino e, ao mesmo tempo, um agradecimento universal. Há imagens que não se penduram na parede: habitam. Esta imagem do Menino Jesus é uma delas.

 Herdada de minha mãe e exposta na sala da minha casa, ela carrega mais do que devoção: guarda memória, afeto e transmissão. É forma que atravessa gerações.
No Domingo Gaudete, terceiro domingo do Advento, levei esse Menino à Igreja da Conceição dos Militares, no Recife, para ser benzido. O gesto desloca a imagem do espaço doméstico — lugar do cotidiano — para o espaço litúrgico — lugar da tradição e da celebração coletiva. Ao final da missa, a imagem retornou para casa, atravessada pela bênção e pelo encontro comunitário.

A representação do Menino Jesus deitado integra uma longa tradição iconográfica do cristianismo, especialmente do barroco luso-brasileiro. É uma imagem teológica: Deus que se apresenta pequeno, frágil e acessível. Aqui, a genealogia da forma encontra a genealogia do afeto. Herdar essa imagem é receber uma história e um modo de crer.

O Menino repousa sobre tecido claro, sinal de simplicidade e pureza. Com a mão, forma o gesto tradicional de bênção, próprio do Menino Jesus Salvador do Mundo. O resplendor dourado atrás da cabeça anuncia sua natureza divina e sua missão. O olhar elevado cria uma ponte entre o humano e o transcendente.

Ao fundo, o altar barroco dourado da Conceição dos Militares não compete com a imagem — a revela. O contraste reafirma a teologia central do cristianismo: a grandeza nasce da pequenez.

O Domingo Gaudete rompe a sobriedade do Advento com um convite à alegria. Ao final da celebração, seguindo a tradição, uma rosa foi entregue aos fiéis — símbolo da esperança que floresce antes do tempo pleno. A rosa, como o Menino, aponta para o que ainda virá.

A celebração foi presidida pelo Padre Sérgio Absalão, então reitor da Conceição dos Militares, sacerdote da Arquidiocese de Olinda e Recife, historiador e mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Sua condução reforçou o sentido do gesto: a bênção não é apenas rito, mas transmissão simbólica e histórica da fé.

Este Menino nos lembra que a origem não está no poder, mas no vínculo; não apenas no altar, mas também na sala de casa. Algumas imagens não são apenas vistas — nos ensinam a ver.

Mariângela Borba é jornalista diplomada, produtora cultural e mestre de cerimônias. Atua na interseção entre comunicação, cultura, direitos humanos e inclusão, com trajetória marcada pela participação em conselhos culturais e em órgãos públicos, como a Secretaria Executiva do MinC (Regional Nordeste) e a Secretaria de Imprensa de Paulista (PE). Professora, revisora credenciada e Social Media Expert, investiga a palavra como ferramenta política e simbólica. Atualmente, dedica-se aos estudos da Psicanálise, incorporando uma leitura crítica do sujeito e da sociedade à sua prática. É membro da UBE e da AIP.