sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Fiocruz: Em 2016 serão 16 mil casos de microcefalia

Até 2015, doença era considerada rara
O número de casos de microcefalia no Brasil aumentou 10% em uma semana e alcançou a marca de 3.893 notificações. Os registros ocorreram em 764 municípios, em 20 Estados e no Distrito Federal. Embora o ritmo de crescimento tenha apresentado leve queda, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, afirma ser cedo para fazer qualquer previsão. O vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, alerta que os números ainda deverão crescer. "Chegaremos a 16 mil casos neste ano", estima.

Para Stebeli, a epidemia de zika é um dos mais graves problemas de saúde pública já enfrentados pelo Brasil.
— A evolução epidemiológica de problemas relacionados à infecção é muito mais rápida do que em outras doenças, como HIV e tuberculose. Estamos assistindo à chegada de uma geração de bebês que necessitam de cuidados intensos para sua melhor qualidade de vida. Será necessária assistência para essas crianças, fora o impacto para a família.

A microcefalia era, até meados do ano passado, uma doença considerada rara no Brasil e no mundo. O número de casos no País explodiu a partir de agosto, meses depois de uma epidemia de zika no Nordeste. Exames feitos em bebês e fetos com a má-formação reforçaram a tese de pesquisadores de que o aumento de casos é causado pela transmissão vertical — da mãe para o bebê, na gestação. 

A amostra mais recente ocorreu em Minas, com um bebê que nasceu com microcefalia. Análises feitas da medula espinal identificaram a presença do zika vírus. O boletim divulgado ontem relatou ainda 49 mortes por má-formação congênita. Desse total, em cinco se confirmou relação com zika.

"O cenário é muito dinâmico. Ele ainda vai mudar bastante", avalia Maierovitch. Ele lembra que o vírus, transmitido pelo mesmo vetor da dengue, já está presente em vários países.
— A tendência é de que ocorram novos casos no Hemisfério Norte e em países onde há infestação do mosquito.

Sudeste e Carnaval

Uma das preocupações das autoridades sanitárias brasileiras é a região Sudeste, onde o vírus começou a circular há pouco tempo e por isso, a grande maioria da população é suscetível.
— O Nordeste já enfrentou uma epidemia no verão passado. Não temos os números, mas há uma estimativa de que parte da população esteja imunizada. O mesmo não acontece no Sudeste.
Para ele, é preciso continuar o trabalho de redução na infestação do mosquito.
— Para não deixarmos a curva de casos subir.

O diretor reconhece que o carnaval representa mais um fator de risco para o número de casos aumentar. Não por causa da circulação de pessoas, pois o vírus já está presente em quase todos os Estados do País, mas pela tendência, nesse período, de as pessoas adotarem atitudes de maior risco.
— O contato interpessoal é maior e as pessoas ficam mais expostas ao mosquito, porque saem para as ruas. Daí a necessidade de insistir para medidas de proteção como uso de repelentes.

Maierovitch também não escondeu preocupação com a situação de São Paulo que, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, já apresenta um grande número de cidades com epidemia de dengue.
— É um indicador da vulnerabilidade dos municípios para zika.

Teste 3 em 1

O Ministério da Saúde anunciou no sábado a compra de um produto que está em fase de testes e cuja produção ainda não está certa. No fim de semana, o ministro Marcelo Castro participou de uma cerimônia em que prometia a compra de 500 mil testes "três em um", para diagnóstico simultâneo de dengue, chikungunya e zika. 

Na ocasião, foi afirmado que os kits começariam a ser entregues em fevereiro. "Ele é promissor, mas é um projeto a médio prazo, para alguns meses", diz o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch.

O teste tem como ponto de partida um kit desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz.
— O produto vai existir, mas algumas etapas ainda são necessárias. A Fiocruz ainda não apresentou na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] o pedido de registro do novo método de diagnóstico, por exemplo.

O vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, afirma que documentos estão sendo reunidos e que essa etapa vai ser cumprida, mas não é essencial para que o novo kit passe a ser usado.
— Atualmente, os laboratórios de referência fazem testes chamados 'in house', uma espécie de teste caseiro que também não passa por certificação da Anvisa.
Portal R7 com conteúdo do Estadão