A história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil, será tema de um projeto educacional voltado para escolas da rede pública estadual de Pernambuco. Escravizada e vinda do Reino do Congo em 1591, Xica terá sua trajetória contada na HQ "XICA: História e memória da primeira travesti do Brasil", que contemplará inicialmente estudantes e professores de dez unidades de ensino distribuídas pelas quatro macrorregiões do estado.
Financiado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e pela Secretaria de Cultura de Pernambuco, o projeto busca dar visibilidade à história de mulheres trans, travestis e negras, destacando seus legados histórico-culturais. A HQ apresenta Xica Manicongo como um símbolo do movimento de mulheres trans no país, promovendo uma narrativa que reforça suas trajetórias para além dos estigmas da escravidão e da transfobia.
O projeto é dividido em três partes: a história em quadrinhos, roteirizada e ilustrada pela artista trans Jocosa Aguiar, um suplemento didático para professores elaborado pela pesquisadora Millena Valença, idealizadora e produtora da ação, e um audiolivro narrado pela multiartista Renna Costa, garantindo acessibilidade para pessoas cegas ou com baixa visão.
Além da distribuição da HQ, o projeto prevê um processo formativo para professores e bibliotecários das escolas contempladas. A formação será conduzida pelas pesquisadoras Odailta Alves, da UFPE, e Dayanna Louise, da UFS, com enfoque no uso da HQ como ferramenta didática para enfrentar o apagamento de identidades trans e negras na narrativa histórica escolar.
Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) indicam que Pernambuco ocupa atualmente a sexta posição entre os dez estados que mais registraram assassinatos de pessoas trans entre 2017 e 2024, tendo sido o primeiro colocado em 2022. Para Millena Valença, enfrentar a transfobia passa pela educação como instrumento de transformação social. "Através da arte e da literatura, o livro provoca uma reflexão e sensibilização de crianças e adolescentes para as questões de gênero e sexualidades, além de desmistificar a ideia de que a transgeneridade só surgiu no século XX", afirma.
Ao todo, serão distribuídos 200 exemplares da HQ, com expectativa de alcançar direta e indiretamente cerca de 10 mil estudantes do Ensino Médio, Ensino Médio Técnico, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Lançamento
O lançamento oficial do livro ocorrerá no dia 23 de maio, às 14h, no Museu MUAFRO, no bairro do Recife. Após o evento, o material fará parte do acervo das bibliotecas escolares e estará disponível gratuitamente em formato digital para qualquer pessoa que deseje utilizá-lo como recurso pedagógico.