Pesquisadores da USP, UERJ e de instituições internacionais desenvolveram um modelo conceitual que propõe uma abordagem integrada para lidar com três grandes desafios globais: desnutrição, obesidade e mudanças climáticas. Apesar de estarem interligadas, essas questões ainda são tratadas de forma isolada pelas políticas públicas e pela ciência. O trabalho foi publicado em 5 de junho na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health.
A partir da análise de mais de 11 mil artigos, os cientistas identificaram apenas 12 estudos que abordam ao menos dois dos três problemas juntos. Nenhum dos trabalhos existentes, por exemplo, explora simultaneamente as relações entre desnutrição e mudanças climáticas no contexto alimentar.
Segundo o estudo, eventos climáticos extremos como inundações e secas comprometem o acesso a alimentos naturais, forçando muitas pessoas a recorrerem a produtos ultraprocessados. Esses produtos, mais fáceis de armazenar e com maior prazo de validade, impactam o meio ambiente e contribuem para o aumento da obesidade e de doenças crônicas. Além disso, o aumento de gás carbônico na atmosfera tem reduzido nutrientes essenciais de alimentos básicos como arroz e trigo.
O modelo proposto pode orientar políticas públicas mais eficazes e conectadas à realidade de populações vulneráveis, como destaca a pesquisadora Giovanna Garrido, da USP. A proposta sugere ações como a identificação de áreas em que a insegurança alimentar se cruza com eventos climáticos extremos, o incentivo à agricultura familiar e a realização de campanhas educativas sobre alimentação saudável.
Os autores também reforçam a necessidade de mais estudos nacionais que integrem os três componentes da chamada sindemia global. A expectativa é que o modelo sirva como base para transformar políticas fragmentadas em soluções sistêmicas e eficientes.
Com informações da Agência Bori
