São Paulo, SP – Prepare-se para uma imersão sensorial nos desafios ambientais. O espetáculo "Fuga", uma criação da Frente Coletiva, estreia em 4 de julho no Sesc Belenzinho, prometendo transportar o público para dentro de um museu fictício em São Paulo, em meio a uma devastadora tempestade climática que paralisa a cidade.
Idealizada pela diretora geral e encenadora Beatriz Barros e pela produtora e atriz Jennifer Souza, a montagem utiliza uma fusão de linguagens artísticas para provocar um debate urgente sobre os efeitos da crise climática e as desigualdades sociais que dela decorrem, especialmente o racismo ambiental. "Usamos essa ideia como base para criar situações que o público pudesse reconhecer como parte de sua própria realidade", explica Beatriz Barros.
A dramaturgia original, assinada por Louise Belmonte em colaboração com a direção e as intérpretes, constrói uma atmosfera de instabilidade constante através de elementos cênicos impactantes: sons de chuvas intensas, trovões, falhas de energia, vento e a presença de água em cena, que interfere diretamente nas interpretações das atrizes. "O som tem um papel fundamental nessa narrativa e a presença da água no cenário torna a encenação uma verdadeira orquestração de experiências sensoriais", destaca Beatriz.
A trama se desenrola com quatro trabalhadoras de um museu presas no local, enquanto outras lutam para chegar à instituição a qualquer custo, impossibilitadas de retornar para casa pelo desastre climático. A urgência de garantir o sustento em meio ao caos as impulsiona. Jennifer Souza, que também atua na peça ao lado de Julia Pedreira, Joy Catharina e Tricka Carvalho, observa: “Elas seguem trabalhando porque não têm escolha: a necessidade de garantir o sustento falou mais alto que o medo da catástrofe. Isso diz muito sobre o sistema em que vivemos”.
O espetáculo propõe uma espécie de visita mediada a esse museu fictício, onde o público acompanha um dia de trabalho que é subitamente rompido por uma emergência climática. A estrutura dramatúrgica se transforma junto com a narrativa, evoluindo de uma cena cotidiana para um espaço extracotidiano, instável e quase apocalíptico.
Desde 2023, as criadoras e a Frente Coletiva têm pesquisado o tema, tendo como ponto de partida o romance "Parábola do Semeador" (1993), da escritora afro-americana Octavia Butler. O livro, uma referência central do afrofuturismo, retrata um mundo em 2025 em pleno colapso climático, servindo de base para a construção das narrativas de "Fuga", que se aproximam do cotidiano contemporâneo.
O cenário, concebido por Maíra Sciuto, incorpora elementos naturais como água, vento, lama e até mesmo a réplica do meteorito de Bendegó (o maior encontrado no Brasil e que estava exposto no Museu Nacional), contribuindo para a sensação de angústia. A sonoplastia, assinada por Lua Oliveira, complementa essa experiência sensorial, construindo uma espacialidade tridimensional através dos efeitos da água. "Pensamos em muitas coisas que pudessem deixar 'Fuga' bem sensorial. Não queremos que os espectadores saiam indiferentes do teatro", defende Beatriz.
Para a Frente Coletiva, a obra busca dar forma a tudo que se vê e escuta sobre o colapso do planeta. "De dizer que sim, ouvimos: cada queimada, cada deslizamento, cada espécie desaparecida, cada corpo que afunda", concluem.
Serviço
Espetáculo: FUGA
Datas: De 4 de julho a 3 de agosto.
Horários: Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h30. A partir de 17 de julho, também às quintas-feiras, às 20h.
Ingressos: R$ 50,00 (inteira); R$ 25,00 (meia-entrada); R$ 15,00 (Credencial Plena).
Vendas: Pelo portal sescsp.org.br e nas bilheterias das unidades Sesc.
Local: Sala de Espetáculos I (130 lugares) – Sesc Belenzinho.
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho – São Paulo (SP).
Duração: 100 minutos.
Classificação: A partir de 14 anos.
Acessibilidade: Libras de 1 a 3 de agosto.