quinta-feira, 5 de março de 2015

Dourado ou azul? Nenhum dos dois. Foi trabalho infantil mesmo.

A empresa que fez #ovestido, cuja cor gerou um gigantesco debate e aguçou a curiosidade de internautas em todo o mundo na semana passada, voltou a receber atenção, mas por um outro motivo, bem menos glamouroso do que a cor da peça feminina. O registro de uso de trabalho infantil pela Roman Originals no passado voltou à tona no Reino Unido.

De acordo com o jornalista britânico Dan McDougall, a repentina demanda pelo vestido pode colocar muita pressão sobre a cadeia de fornecedores da empresa e isso poderia levar a Roman Originals a voltar a usar o trabalho de menores no exterior, como constatado em 2007. A versão original do vestido, em preto e azul, está disponível no site da loja por 50 libras (US$ 77, cerca de R$220) e, apenas na sexta-feira passada, suas vendas cresceram 560%. E a empresa já anunciou que vai lançar uma versão em branco e dourado da peça ainda este ano.

“Encomendar grandes quantidades de peças de vestuário de repente pode colocar uma enorme pressão sobre as cadeias de fornecimento. Então, espero que a Roman Originals garanta a interessados em encomendar o vestido que a peça será produzida de forma ética”, afirmou McDougall ao site motherjones.com.

Em uma investigação feita em 2007 para o jornal “The Observer” (foto abaixo), McDougall e o também jornalista Jamie Doward visitaram confecções em Nova Délhi, na Índia, onde crianças de nove anos costuravam lantejoulas e faziam bordados. Um dos menores tinha feridas na parte de trás das pernas, embora um supervisor tenha negado qualquer agressão.

O menor agredido afirmou aos jornalistas que fora vendido à confecção por sua família. E afirmou, na época, ao “The Observer”: “Quero trabalhar aqui. Assim, tenho onde dormir à noite. O trabalho é duro e minhas costas doem de ficar agachado sobre o material, mas estou aprendendo”.

Na época, a Roman Originals afirmou ter ficado chocada com as imagens e investigado os fornecedores. “Ficamos horrorizados ao ver essas imagens e, imediatamente, lançamos uma investigação sobre nosso fornecedores”, disse a empresa em nota, acrescentando que cancelou o contrato. “Havíamos visitado os fornecedores e vimos apenas força de trabalho adulta e práticas que satisfaziam nossos padrões. Parece que nosso fornecedor subcontratou outra empresa, onde ocorreu o problema.”

Em meio ao furor por #ovestido, McDougall pediu à Roman Originals que seja transparente sobre seu processo de produção. “Por que não fazer do vestido mais famoso do mundo o garoto-propaganda para o comércio justo ou produção sustentável?”, indagou McDougall em entrevista ao site Mother Jones.

A polêmica sobre #ovestido começou depois que Caitlin Mcneill, de 21 anos, postou a imagem de um vestido em sua conta no Facebook, após uma discussão interminável a respeito da cor da peça. A publicação gerou um dos maiores debates da história da internet, com pessoas discutindo ferozmente sobre a cor do vestido, que é azul e preto.

Jornal O Globo