sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Voz da Memória: Hiroshi Taniguchi, sobrevivente de Hiroshima compartilha sua história em Porto Alegre


Porto Alegre, RS – O impacto da bomba atômica de Hiroshima, em 1945, é uma ferida histórica que transcende o tempo e o espaço. Em Porto Alegre, a memória dessa tragédia é mantida viva por Hiroshi Taniguchi, nascido em 1951, a poucos quarteirões do local da explosão. O senhor Taniguchi, que se identifica como o único sobrevivente da província de Hiroshima na capital gaúcha, compartilha suas lembranças e a luta de sua comunidade.

Ao retornar para a cidade devastada após a explosão, os sobreviventes, incluindo seus familiares, encontraram um cenário de reconstrução. As ruas, sem calçamento, e os terrenos baldios, onde hoje em dia as crianças brincam, ainda mantinham as marcas da destruição. Em 1945, a população de Hiroshima era de aproximadamente 350 mil pessoas, e cerca de 166 mil morreram no momento da explosão. Segundo Hiroshi, o número de vítimas poderia ter sido ainda maior, mas muitas pessoas já haviam sido evacuadas devido à ameaça de ataques americanos.

No entanto, a tragédia não parou por aí. As pessoas que retornaram à cidade em busca de seus entes queridos foram fatalmente expostas à radiação. A exposição à radioatividade causou doenças graves, como a leucemia, que continua a afetar e a matar a população local até hoje.

A Lenda de Sadako e os Tsurus: Um Símbolo de Paz
Uma das histórias mais emblemáticas, que se tornou um símbolo global contra a guerra, é a da menina Sadako Sasaki. Classificada como Hibakusha (termo japonês para as vítimas da bomba atômica), Sadako era uma criança cheia de vida que, aos 12 anos e dez anos após a explosão, veio a falecer de leucemia.

No Japão, uma lenda milenar diz que quem dobrar mil tsurus, os pássaros de papel, terá seu desejo realizado. Sadako, com a esperança de se curar, conseguiu dobrar 644 tsurus antes de sua morte. Hoje, sua estátua, no Museu da Paz em Hiroshima, está cercada por milhares de tsurus de papel enviados de todas as partes do mundo, servindo como um poderoso lembrete da fragilidade da vida e da busca pela paz.

Hiroshi Taniguchi ressalta que essas são apenas algumas das centenas de histórias tristes. Ele menciona, por exemplo, a história de um irmão que carregava o corpo de seu irmão mais novo nas costas em busca dos pais.

Lembranças e Esperança de um Mundo de Paz
O governo japonês, até hoje, oferece assistência médica e social aos Hibakushas e a seus descendentes que herdaram doenças causadas pela radiação. A família de Hiroshi também contribui para a preservação da memória e para a mensagem de paz. Seu tio, artista de vidro, criou várias maquetes do prédio que resistiu à bomba, o Domo da Bomba Atômica, e as doou como símbolo de paz, sendo reconhecido como embaixador da paz em Hiroshima.

Para Hiroshi, o principal culpado das guerras é a ganância de quem está no poder, não o povo. “Sem a guerra nós já temos inúmeros problemas, com, é muito mais”, afirma. Em meio a suas lembranças, Hiroshi Taniguchi transmite uma mensagem universal de esperança: que um dia o mundo possa viver em paz, sem ódio e sem guerras.