A paleobotânica brasileira solucionou um antigo enigma ao redefinir a classificação de uma planta fóssil encontrada no sul do Brasil. A pesquisa, liderada pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), resultou na criação de um novo gênero, chamado Franscinella, para a espécie agora conhecida como Franscinella riograndensis.
O estudo, publicado na revista Review of Palaeobotany and Palynology, revisita um fóssil que havia sido descrito há décadas. A nova análise, que combinou tecnologias avançadas e colaboração entre instituições brasileiras e internacionais, permitiu o primeiro registro de licópsidas com esporos in situ (no local de origem) nos estratos permianos da Bacia do Paraná.
Um fóssil clássico, uma nova visão
A espécie, originalmente batizada de Lycopodites riograndensis, foi inicialmente descrita com base em características macro-morfológicas. A equipe de pesquisadores, no entanto, decidiu revisitar o material-tipo, que estava sob custódia da Univates, para investigar detalhes internos que não puderam ser analisados no passado.
Com o auxílio de técnicas de ponta, como a microscopia eletrônica de varredura (MEV) e a moldagem por silicone vinil polissiloxano (VPS), a equipe conseguiu visualizar estruturas internas do fóssil. A análise revelou a presença de ramificação isotômica, traqueídeos do cilindro vascular preservados e, o mais importante, esporos triletes com escultura verrucada ainda dentro das estruturas reprodutivas da planta.
A descoberta dos esporos foi considerada crucial, e foi possível graças à infraestrutura do Instituto Tecnológico itt Oceaneon, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). O laboratório aplicou um protocolo específico para a recuperação de microfósseis, o que possibilitou a extração dos esporos in situ.
Ligando o passado macro e micro
Os esporos encontrados na Franscinella riograndensis possuem morfologia compatível com o gênero palinológico Converrucosisporites, que é comum em depósitos do período Permiano da Bacia do Paraná. Essa descoberta é relevante, pois conecta diretamente o registro macrofóssil (partes visíveis da planta) ao registro microfóssil (esporos), aprofundando o conhecimento sobre a vegetação e os ecossistemas do passado.
A pesquisa também ressalta a importância de revisitar fósseis antigos com novas ferramentas e o papel da colaboração entre instituições para solucionar desafios científicos. O registro de licópsidas com esporos in situ na Bacia do Paraná é raro, sendo apenas o quinto registro conhecido no supercontinente Gondwana, o que permite novas perspectivas para a reconstrução da flora do Permiano e para o entendimento da evolução das plantas vasculares.
A pesquisa contou com a participação de cientistas da Univates, Unisinos e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de pesquisadores da Alemanha. O projeto teve o apoio financeiro do CNPq e da CAPES.