quinta-feira, 31 de julho de 2025

Nivaldo Nascimento Mergulha no Cangaço para Viver Rosendo em "Guerreiros do Sol"

 


O ator Nivaldo Nascimento, conhecido por sua imersão em personagens que retratam a rica cultura nordestina, embarcou em uma jornada de pesquisa aprofundada para dar vida a Rosendo na série "Guerreiros do Sol". Com uma base de conhecimento prévia sobre o Cangaço, Nascimento detalha como aprofundou sua compreensão do universo dos cangaceiros e coiteiros para a construção do personagem.

"Eu já estudava o Cangaço por achar muito interessante a história, já tinha uma noção desse mundo", revela Nascimento. Ao ser contratado para o papel de Rosendo, o ator intensificou sua preparação, escutando músicas da época , assistindo a documentários sobre os costumes e a rotina do Cangaço , e buscando depoimentos sobre o papel e a importância dos coiteiros para o bando de Lampião. Ele também buscou referências bibliográficas e cinematográficas.

A inspiração para a construção física de Rosendo veio de uma fonte inusitada: um vizinho que se chamava Rosendo. "Ele foi meu ponto de partida", afirma Nascimento. O ator descreve Rosendo como um personagem de risco, com uma voz e uma forma de andar diferentes, além de um "jeitinho de submissão que não fica muito definido se é por simpatia à causa, por afinidade ao Josué ou uma forma de se manter vivo e com seus negócios, sem o risco de perder tudo".

Nascimento revela que não encontrou grandes dificuldades na imersão no cenário do sertão, visto que já havia trabalhado na região nordestina e se deparado com a rota do Cangaço em outras ocasiões. "Mesmo quando eu estava gravando em estúdio eu tinha sentidos e sensações do sertão, da caatinga, porque aquele ambiente é família", explica.

Para o ator, "Guerreiros do Sol" oferece uma perspectiva "muito pouco explorada da história do Cangaço". A série vai além da violência, abordando "relações, desejos, medos, necessidades, sonhos, paixões, invejas, quebras de paradigmas", em uma releitura de uma história cheia de controvérsias. Nivaldo elogia os autores George Moura, Sérgio Goldenberg e colaboradores, considerando-os "cirúrgicos a ponto de fisgar a atenção do espectador, onde muitos achavam que não se tinha mais o que contar sobre o Cangaço".

Contracenar com grandes nomes da cinematografia e televisão brasileira, especialmente do Nordeste e de Pernambuco, foi uma experiência gratificante para Nascimento. "É transitar em águas tranquilas", descreve, pela certeza de que "do outro lado as respostas virão na mesma intensidade ou maior, fazendo com que as cenas sejam vistas de formas verdadeiras e genuínas".

A cena mais marcante para Nivaldo foi a emboscada em que ele e seu irmão foram surpreendidos. "Íamos guardar as mercadorias do Governador Josué e Arduino estava dentro da casa e sem falar nada deu um tiro na testa do meu irmão que caiu morto ao meu lado", relata. A cena se intensificou quando Arduino o ameaçou, exigindo a localização de Josué. "Foi uma cena forte", conclui.

Nascimento destaca o compromisso do projeto com a cultura local. "Todo o projeto estava impregnado de nossa cultura, antes das cenas tinha sempre um caixa de som com nossas músicas", relembra. A experiência de estar em locais por onde Lampião e seu bando passaram, de ver as roupas e acessórios dos cangaceiros, e de atuar em um set onde o sotaque nordestino era o foco, foi "muito emocionante" e "arrepiava".

Nivaldo Nascimento ressalta ainda que Rosendo tinha um amor incondicional por sua família. Ele finaliza com uma reflexão sobre a importância de discutir as ações dos legisladores e de não permitir que a história e as conquistas do povo sejam marginalizadas. Para o ator, é fundamental estudar os momentos da história que "tentam marginalizar movimentos contrários ao coronelismo, escravista e opressor", e que "não podemos nos curvar sem lutar, sem acreditar em nossa liberdade".

Em entrevista ao Blog Taís Paranhos, Nivaldo fala da sua preparação e trabalho nesta novela global. Vamos acompanhar?



Como foi o processo de preparação para dar vida ao personagem Rosendo em Guerreiros do Sol? 

Eu já estudava o Cangaço por achar muito interessante a história, já tinha uma noção desse mundo. Quando foi contratado pra dar vida a Rosendo, eu comecei a escutar as músicas da época. Assistir documentários sobre o Cangaço, seus costumes e a rotina de vida. Procurei depoimentos sobre o papel dos coiteiros e sua importância para o bando de Lampião.

Você teve alguma referência histórica ou pessoal para construir o papel? 

Sim, busquei algumas referências bibliográficas, cinematográficas. Já para construção do personagem fisicamente eu tive um vizinho que se chamava Rosendo. Ele foi meu ponto de partida. Rosendo foi muito especial. Porque foi um personagem onde eu arrisquei, trazendo uma voz diferente, uma forma diferente de andar. Um jeitinho de submissão que não fica muito definido se é por simpatia a causa, por afinidade ao Josué ou uma forma de se manter vivo e com seus negócios, sem o risco de perder tudo.

Qual foi o maior desafio ao interpretar alguém inserido no contexto dos anos 1920 e 1930 no sertão nordestino? 

Não tive muita dificuldade não, porque como disse antes eu já estudava essa época por causa do Cangaço, e tive o prazer de fazer alguns trabalhos no sertão da nossa região nordestina e em algumas vezes me deparei com a rota do Cangaço. Então mesmo quando eu estava gravando em estúdio eu tinha sentidos e sensações, do sertão, da caatinga porque, aquele ambiente é família. Claro que não na intensidade que os cangaceiros viveram, mas a mise en scène era muito real.

Você acredita que a série trouxe novas camadas à representação do cangaço na TV brasileira? 

Total, a série Guerreiros do Sol traz uma visão muito pouco explorada da história do Cangaço. Não fala só de violência, traz relações, desejos, medos, necessidades, sonhos, paixões, invejas, quebras de paradigmas. Uma releitura de uma história cheia de controvérsias. Os autores George Moura, Sérgio Goldenberg e seus colaboradores foram cirúrgicos a ponto de fisgar a atenção do espectador, onde muitos achavam que não se tinha mais o que contar sobre o Cangaço.

Como foi contracenar com outros nomes fortes do elenco, como Hermila Guedes e José de Abreu? 

Contracenar com grandes nomes da cinematografia e televisiva do nosso país, principalmente do nordeste e de Pernambuco, é transitar em águas tranquilas. Porque é a certeza que do outro lado as respostas virão na mesma intensidade ou maior. Fazendo com que as cenas sejam vistas de formas verdadeiras e genuínas

O que mais te marcou durante as gravações — alguma cena ou bastidor especial? 

Foi a cena em que eu e meu irmão fomos emboscadas em uma de minhas casas. Íamos guardar as mercadorias do Governador Josué e Arduino estava dentro da casa e sem falar nada deu um tiro na testa do meu irmão que caiu morto ao meu lado. Logo depois colocou a arma na minha cara e pisou no meu peito e ameaçou matar meus netos se não entregasse onde estava Josué. Foi uma cena forte.

A produção teve forte ligação com a cultura nordestina. Isso influenciou seu envolvimento emocional com o projeto? 

Sim, todo o projeto estava impregnado de nossa cultura, antes das cenas tinha sempre um caixa de som com nossas músicas. Ver as roupas de cangaceiros, seus acessórios. Está onde lampião e seu bando passou, dormiu, lutou. Foi muito emocionante. Está em um set onde o nosso sotaque era o foco. Arrepiava.

Rosendo tem algum traço que você identifica em si mesmo? 

Sim, Rosendo tinha um amor incondicional a sua família.

Como você enxerga o impacto da série nas discussões sobre política, território e memória popular? 

Que passemos a discutir as ações dos que colocamos para fazerem as leis do nosso País, estado e municípios . E que nunca deixemos marginalizar nossa história e nossas conquistas e legado.

Que legado você espera que Guerreiros do Sol deixe para o público e para o audiovisual brasileiro?

É importante entendermos que é fundamental estudarmos momentos de nossa história e que por vezes tentam marginalizar movimentos contrários ao coronelismo, escravista e opressor. Não podemos nos curvar sem lutar, sem acreditar em nossa liberdade.