segunda-feira, 23 de junho de 2025

Unesp Lidera Projeto Inovador de R$ 14 Milhões para Revolucionar Tratamento da Tuberculose com Nanotecnologia Inalatória


Araraquara, SP – Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp, em Araraquara, acabam de receber um investimento de cerca de R$ 14 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), com apoio do Sistema Único de Saúde (SUS), para desenvolver um tratamento inovador contra a tuberculose. O projeto, que se destaca pela proposta de um medicamento inalável, visa substituir a atual terapia oral, que exige a ingestão diária de múltiplos comprimidos por longos períodos.

Atualmente, o tratamento da tuberculose é um desafio, demandando a ingestão de até 12 comprimidos por dia, por um período que pode variar de seis a 24 meses. Essa rotina rigorosa frequentemente resulta em baixa adesão dos pacientes, um fator que contribui para o surgimento de bactérias resistentes e diminui as chances de cura, especialmente em populações vulneráveis como pessoas em situação de rua, indígenas e detentos. A tuberculose, uma doença antiga, voltou a ser a doença infecciosa que mais mata no mundo, com 10,8 milhões de novos casos apenas em 2023, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A inovação proposta pela Unesp, batizada de INOVA TB, foca na administração dos fármacos por meio de micropartículas que atingiriam diretamente os pulmões, onde a bactéria se instala e se protege dentro de estruturas conhecidas como granulomas. A abordagem nanotecnológica é um diferencial, utilizando nanopartículas de compostos naturais produzidos pelos próprios pulmões (surfactantes pulmonares) para transportar os medicamentos até o foco da infecção. Essas nanopartículas são encapsuladas em estruturas micrométricas, com um tamanho ideal para inalação sem serem eliminadas na expiração.

Segundo Fernando Rogério Pavan, professor que coordena a proposta, "há pelo menos duas décadas não há novidades significativas no mercado de medicamentos para tuberculose. Por isso, este projeto pode representar um salto terapêutico importante, especialmente se conseguirmos atingir as estruturas infectadas com doses menores, mais eficazes e com menos efeitos colaterais". Ele lidera o projeto junto com os docentes Andréia Bagliotti Meneguin, Leonardo Miziara Barboza Ferreira, Lucas Amaral Machado e Marlus Chorilli, todos da FCF.

A proposta, considerada "sem precedentes" por tratar a tuberculose por via inalatória, destacou-se em um edital altamente competitivo da FINEP, conquistando a nona colocação entre mais de 200 propostas avaliadas em todo o país.
O projeto INOVA TB ainda está em fase inicial, com etapas de estudos físico-químicos, avaliação da atividade antimicrobiana em laboratório e testes em modelos animais. Somente após essa fase será possível analisar a viabilidade clínica e considerar o início de ensaios em humanos. "Por ora, temos uma hipótese sólida cuja comprovação científica virá com os experimentos", explica o professor Lucas Amaral Machado.

Além do potencial terapêutico, o projeto fortalecerá a infraestrutura da FCF com a aquisição de equipamentos de ponta, como um tomógrafo de alta resolução para pequenos animais, que estará disponível para toda a comunidade acadêmica. A tecnologia desenvolvida poderá, futuramente, ser aplicada a outras doenças de relevância em saúde pública, como Covid-19, pneumonias e asma. O projeto também prevê a formação de recursos humanos com bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
 "Mesmo que o produto final leve tempo para se concretizar, o legado científico e formativo será imediato. E, caso a hipótese se confirme, o Brasil poderá contar com uma solução nacional, acessível e de impacto real no SUS", conclui o professor Leonardo Miziara Barboza Ferreira.