sábado, 7 de junho de 2025

Estudo Internacional Revela que Atividade Física Estruturada Reduz Recidiva e Aumenta Sobrevida em Pacientes com Câncer de Cólon


CHICAGO, ESTADOS UNIDOS – Um estudo internacional de grande relevância, o CHALLENGE, publicado no prestigiado New England Journal of Medicine em 1º de junho, e que ganhou destaque no último Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO 2025), principal congresso da oncologia mundial, realizado entre 30 de maio e 3 de junho em Chicago, nos Estados Unidos, revelou descobertas cruciais para o tratamento e a recuperação de pacientes com câncer de cólon. A pesquisa, conduzida por cientistas canadenses em 55 centros de câncer de seis países, aponta que um programa estruturado de exercícios físicos após o tratamento pode diminuir significativamente o risco de recidiva da doença e aumentar a sobrevida global. A notícia também repercutiu na imprensa internacional, incluindo o jornal The New York Times.

O ensaio clínico randomizado acompanhou 889 pacientes com câncer de cólon em estágio III ou II de alto risco, todos submetidos a cirurgia e quimioterapia adjuvante. Após aproximadamente oito anos de monitoramento, os resultados demonstraram que os pacientes que participaram do programa supervisionado de exercícios físicos apresentaram uma redução de 28% no risco de recidiva ou de desenvolvimento de um novo câncer, além de uma impressionante redução de 37% no risco de morte. O programa consistia em atividades aeróbicas, como caminhadas rápidas de 45 minutos, quatro vezes por semana, com suporte profissional por um período de três anos.

“Estamos diante de evidência científica robusta que reforça a urgência de integrar o exercício físico aos programas de survivorship oncológicos. Essa prática simples, acessível e segura pode salvar vidas”, afirma a oncologista Luciana Landeiro, diretora do programa de survivorship do grupo Oncoclínicas. Na oncologia, survivorship (ou cuidados ao sobrevivente) refere-se ao acompanhamento contínuo dos pacientes após a fase mais intensa do tratamento, visando apoiar diversas dimensões da vida, incluindo aspectos físicos, emocionais, psicológicos, sociais e financeiros.

Além dos desfechos clínicos positivos, os participantes do grupo de intervenção relataram uma melhora sustentada na função física ao longo do tempo. A boa adesão ao programa, atribuída ao acompanhamento estruturado e às metas claras, sublinha a importância do apoio contínuo para o sucesso de estratégias de autocuidado no pós-tratamento oncológico.

Os autores do estudo enfatizam que os benefícios do exercício físico não devem mais ser considerados apenas complementares ao tratamento. Há evidências crescentes de que a atividade física atua como uma intervenção terapêutica com impacto direto na sobrevida, modulando fatores biológicos como inflamação, sensibilidade à insulina, vigilância imunológica e equilíbrio hormonal, que podem influenciar o reaparecimento do câncer.

Para Luciana Landeiro, o estudo CHALLENGE representa um marco no contexto da survivorship, reforçando a necessidade de incluir a atividade física supervisionada como parte estruturante dos planos de cuidado no pós-tratamento. No Brasil, onde os casos de câncer de cólon têm aumentado, inclusive entre jovens, essa abordagem representa uma oportunidade concreta de transformar o cuidado e ampliar a sobrevida dos pacientes.

O câncer colorretal, que envolve o cólon (parte do intestino grosso que se estende entre o ceco e o reto), é o segundo tumor mais frequente em homens e mulheres no Brasil, atrás apenas dos cânceres de mama e próstata (excluindo o câncer de pele não melanoma), de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Para 2025, o INCA prevê 45.630 novos casos de câncer colorretal no país. Na Bahia, por exemplo, são estimados 1.940 novos casos da doença este ano.

“Esse estudo nos leva a refletir sobre os rumos da atenção oncológica no Sistema Único de Saúde (SUS)”, conclui Luciana Landeiro. “Ele destaca o valor das estratégias de reabilitação e promoção da saúde, como a atividade física supervisionada, que precisam ser incorporadas e adaptadas à realidade brasileira para fortalecer o cuidado no pós-tratamento.”