quarta-feira, 7 de maio de 2025

Documentário "O Bem Virá" estreia nos cinemas exaltando a força das mulheres do Sertão pernambucano

 


Após um percurso de sucesso por festivais nacionais e internacionais, o documentário "O Bem Virá", dirigido por Uilma Queiroz, estreia nas salas de cinema do Brasil. O lançamento oficial acontece no Cinema do Museu, em Recife, no dia 15 de maio, às 19h30, seguido de exibições em diversas cidades do país.

Gravado no Sertão do Pajeú, o filme resgata a memória de treze mulheres grávidas fotografadas em 1983, durante uma frente de emergência em plena seca (foto ao lado). Com uma abordagem sensível e profundamente política, o documentário reflete sobre a resistência e as conquistas dessas mulheres, desconstruindo estereótipos sobre o sertão e propondo um olhar de dignidade e força feminina.

A obra chega às telonas com o apoio do Funcultura, e marca a estreia de Uilma Queiroz na direção de um longa-metragem. Além do Recife, o documentário será exibido em diversas cidades, incluindo Belo Horizonte, Vitória, Manaus, Brasília, Garanhuns, Maceió, Porto Alegre e Rio de Janeiro. No dia 18 de maio, haverá uma sessão especial com debate no Cinema São Luiz, no Recife.

Premiado em festivais como o Festival Internacional de Documentários de Buenos Aires (FIDBA) e o Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, "O Bem Virá" se destaca como um importante registro cinematográfico sobre as mulheres sertanejas e suas histórias de luta e resistência.

A diretora Uilma Queiroz, que também é pesquisadora e educadora, cresceu entre o sítio Matinha, em Carnaíba, e a área urbana de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco. Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Uilma leva o debate sobre as representações dos sertões no cinema brasileiro para a sala de aula e para seus cursos especializados.

O documentário é uma produção da Vilarejo Filmes, com incentivo do Funcultura, e conta com a distribuição da Nascente Filmes, de Laura Pimentel. A produção é assinada por Kika Latache, que tem mais de 20 anos de experiência no audiovisual e já trabalhou em filmes como "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, e "Propriedade", de Daniel Bandeira. Além das exibições em cinemas pelo Brasil, o filme também terá uma sessão especial na Mostra Ayabá, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, nos dias 18 e 23 de maio.

Veja agora a entrevista que fizemos com a diretora Uilma Queiroz:

Qual foi o insight para começar o filme "O Bem Virá"?
Foi uma fotografia. A gente conta que é uma foto e várias histórias. É uma fotografia que foi tirada em 1983, em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú, Pernambuco. Eu a encontrei depois, entre 2014 e 2015, quando estava fazendo uma pesquisa histórica para a faculdade. Quando vi essa foto, já percebi o desejo tanto do fotógrafo Narciso quanto de uma das mulheres retratadas, Lourdes, em reencontrar as demais. Sabíamos que eram de Afogados e de comunidades rurais, mas suas identidades ainda eram desconhecidas.

Foi também o momento em que começamos a estudar cinema em Afogados da Ingazeira. Nossa cidade tem um cinema de rua em funcionamento, e essa experiência sempre nos provocava reflexões sobre o papel do audiovisual. O filme foi pensado como uma forma de encontrar essas mulheres e contar essa história para quem não lê, já que eu havia produzido uma monografia e uma dissertação acadêmica sobre o tema.

O cinema nos permite uma comunicação mais ampla, e foi nele que encontrei uma forma artística e poética de buscar as mulheres, fazendo dessa procura a essência do filme. Assim, partimos de uma foto para dialogar com treze mulheres, suas vidas e suas trajetórias.

Essas mulheres tiveram uma melhora significativa na qualidade de vida ao longo dos anos?
Eu diria que sim, mas dentro de um contexto específico. Em 1983, enfrentávamos uma estiagem severa, e as políticas existentes não eram públicas de fato, mas sim ações de mitigação da fome. Quando reencontramos essas mulheres em 2017, elas já tinham acesso a políticas públicas mais consolidadas—embora, infelizmente, naquele momento estivesse acontecendo um desmonte dessas políticas.

Uma das principais melhorias foi o acesso à aposentadoria rural. Em 1983, as mulheres do campo ainda não tinham direito ao benefício. Quando as reencontramos, todas já eram idosas e aposentadas, garantindo um suporte mínimo de dignidade.

Mas a ideia do filme dialoga com essa construção do bem que está por vir. O título remete a uma esperança ativa, construída com as mãos. Lourdes, uma das personagens, nos diz que “o que temos a conquistar é infinito”, reforçando que há muito caminho pela frente. Precisamos olhar para o Sertão com mais dignidade e compromisso, reconhecendo sua potência e não apenas suas vulnerabilidades.

Como será a exibição do documentário nos cinemas?
Conseguimos aprovar a distribuição comercial do filme pela segunda vez. A primeira aprovação aconteceu em 2018, por meio do Funcultura, mas, devido ao desmonte da Ancine e às dificuldades enfrentadas nos últimos anos, o projeto foi arquivado, mesmo com os recursos já garantidos.

Agora, através da Lei Paulo Gustavo, reenviamos o projeto e finalmente conseguimos a aprovação definitiva. A distribuição do filme começa em maio, com exibições em cidades como Afogados da Ingazeira, Recife, Belo Horizonte, Vitória, Manaus, Brasília, Garanhuns, Maceió, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Estamos mobilizando essa programação e convidamos todos para irem assistir ao documentário nas salas de cinema, fortalecendo a produção audiovisual do Sertão e ampliando o alcance dessa história.