sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eleições 2012: Humberto pode apoiar Geraldo Júlio em eventual segundo turno


Com sério risco de naufragar na tentativa de seguir no comando da prefeitura de Recife já no primeiro turno, o PT pode se ver obrigado a apoiar o PSB na segunda rodada da disputa pela capital pernambucana, meses após a ruptura da aliança entre as duas siglas, que levou ao lançamento da candidatura socialista.
Embora um alinhamento dos petistas com o PSB seja apontado como natural, especialmente no cenário atual em que um candidato do PSDB ocupa a vice-liderança nas pesquisas, o trauma da ruptura entre os tradicionais aliados na cidade deve reduzir o entusiasmo do PT no apoio ao atual líder de intenções de voto, Geraldo Julio (PSB).
A candidatura de Julio, que pela primeira vez disputa uma eleição, nasceu da decisão dos socialistas, capitaneados pelo governador pernambucano, Eduardo Campos, de romper a histórica aliança na cidade, após brigas internas do PT levarem à intervenção da Executiva Nacional na cidade e à imposição da candidatura do senador Humberto Costa (PT).
O cisma interno do PT recifense, além da má avaliação do atual prefeito, João da Costa (PT), permitiram que Julio assumisse a liderança nas pesquisas e também colaboraram para a ascensão do nome do deputado estadual tucano Daniel Coelho.
"A falta de coesão do PT é, de certo modo, responsável pela queda do Humberto Costa... (Além disso), prefeitos mal avaliados podem contaminar o indicado de seu partido", argumentou a cientista política Helcimara de Souza Telles, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira mostra Julio com 42 por cento das intenções de voto, à frente de Coelho, com 22 por cento, e de Humberto Costa com 17 por cento. Apesar da vantagem numérica do candidato do PSDB, como a pesquisa tem margem de erro de 3 pontos percentuais, os dois estão em empate técnico.
Mas o ressentimento deixado entre petistas por conta da decisão do PSB de romper a aliança municipal deve dificultar um empenho efetivo de membros do PT em favor da campanha de Julio para derrotar Coelho.
"A tendência é que eles (PT) apoiem formalmente (Geraldo Julio no segundo turno), mas não farão muita força", disse à Reuters um integrante da campanha socialista na cidade, sob condição de anonimato.  
O trauma causado pela ruptura é admitido, inclusive, entre membros da cúpula petista em Recife. Mas pelo menos publicamente, os petistas seguem firmes no discurso de que Costa estará no segundo turno e se recusam a projetar um apoio a Julio.
"Nessa reta final, existe um claro sentimento de crescimento da nossa parte", disse Humberto Costa à Reuters, apesar dos números não mostrarem isso --no Datafolha anterior, duas semanas atrás, ele tinha 23 por cento. "A minha expectativa é estar no segundo turno."
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA
A campanha petista inicialmente apostou grande parte de suas fichas no apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que embora não tenha ido pessoalmente ao Recife teve participação ativa na campanha de Costa na televisão.
Mais recentemente, entretanto, a propaganda petista tem centrado fogo em Eduardo Campos, governador que tem ampla taxa de aprovação, a quem os petistas acusam, por exemplo, de querer privatizar a companhia estadual de água e esgoto, o que elevaria as tarifas.
A mudança no cenário eleitoral em Recife gera, inclusive, dúvidas sobre quanto o petismo está enraizado na cidade. "Sempre se teve em mente que o PT sempre teria 30 por cento dos votos em Recife independente do candidato", disse Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco.
"No momento em que você tem a má avaliação do prefeito João da Costa, você descobre que o petismo era um fenômeno conjuntural", acrescentou.
Outra mudança de rumo da campanha petista é procurar se descolar de João da Costa, cuja impopularidade tem impulsionado tanto Julio quanto Coelho.
"Por conta da péssima administração que o atual prefeito fez, há um sentimento muito forte pela mudança. E toda a responsabilidade pela má gestão é atribuída ao PT. Eu, como sou do quadro, sou responsabilizado", disse Humberto Costa. 
Se o PT busca se descolar da administração atual, a estratégia tucana para levar Daniel Coelho ao segundo turno é de seguir se aproveitando da rejeição ao atual prefeito e, de quebra, também colar o PSB, partido do atual vice-prefeito, na gestão atual.
"Nós víamos uma tentativa de criar uma falsa polarização entre duas candidaturas de governo, de continuidade do atual prefeito João da Costa, do PSB e do PT. Ambos governaram a cidade juntos por 12 anos e estavam juntos até a véspera da eleição", disse o candidato tucano, de 33 anos, à Reuters.
Embora Julio já tenha, no mínimo, vaga garantida no segundo turno, o cenário eleitoral em Recife ainda está indefinido. Como lembra Oliveira, da UFPE, o socialista pode até levar a eleição já no primeiro turno.
Segundo os dados da última pesquisa Datafolha, descontados os votos brancos e nulos Julio aparecia com 47 por cento dos votos válidos. Para vencer no primeiro turno um candidato precisa de 50 por cento mais um dos votos.
"A pergunta que se faz neste momento é: as próximas pesquisas revelarão um crescimento de Daniel, ou não? Se revelarem um crescimento de Daniel, ele vai entrar no eleitorado de Geraldo Julio. Se não revelar, a possibilidade de a eleição terminar no primeiro turno se consolida", resumiu Oliveira.

Agência Reuters - Eduardo Simões e Maria Carolina Marcello