sábado, 6 de setembro de 2025

Ana Maria Gonçalves torna-se a primeira mulher negra na Academia Brasileira de Letras


Brasília, 6 de setembro de 2025 — Em um momento histórico para a literatura brasileira, a escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita para ocupar a cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição fundada em 1897. A eleição, realizada em julho, contou com 30 dos 31 votos possíveis, evidenciando o amplo reconhecimento de sua trajetória literária e intelectual.

A cadeira nº 33 pertencia ao linguista e gramático Evanildo Bechara, falecido em maio deste ano. Com sua entrada, Ana Maria Gonçalves não apenas rompe uma barreira simbólica, mas também reacende o debate sobre representatividade racial e de gênero nas instituições culturais brasileiras.

Natural de Ibiá, Minas Gerais, Gonçalves nasceu em 1970 e iniciou sua carreira como publicitária em São Paulo. Após se mudar para a Bahia, dedicou-se à escrita e publicou seu primeiro romance, Ao Lado e à Margem do Que Sentes por Mim, em 2002. Quatro anos depois, lançou Um Defeito de Cor, obra monumental de 951 páginas que narra a saga de Kehinde, uma mulher africana escravizada no Brasil que retorna ao continente africano em busca do filho. Inspirado na figura histórica de Luísa Mahin, o livro tornou-se referência na literatura afro-brasileira contemporânea, recebendo o Prêmio Casa de Las Américas e inspirando exposições, peças teatrais e o enredo da Portela no Carnaval de 2024.

Além de escritora, Ana Maria Gonçalves atuou como professora visitante em universidades norte-americanas como Tulane, Stanford e Middlebury College. Em 2013, foi condecorada com a Comenda da Ordem de Rio Branco por sua atuação na promoção da cultura e da luta antirracista. “Acho que eu ter sido eleita é um aceno da Academia a se enxergar, a entender o que falta lá dentro”, declarou a escritora após sua eleição.

A presença de Gonçalves na ABL representa um gesto de reparação simbólica, especialmente diante da exclusão histórica de figuras como Júlia Lopes de Almeida, uma das fundadoras da Academia, impedida de ocupar uma cadeira por ser mulher. Com sua entrada, Ana Maria Gonçalves inaugura uma nova página na história da literatura brasileira — mais plural, mais diversa e mais consciente de suas raízes.

Foto: Tânia Rego - Agência Brasil