segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Vídeo sobre “adultização” infantil mobiliza o Brasil e acelera ações no Congresso

 

Imagem: Reprodução YouTube


São Paulo e Brasília - Um vídeo de quase 50 minutos publicado por um criador de conteúdo digital provocou uma verdadeira comoção nacional. Intitulado “Adultização”, o material denuncia a exposição precoce e a exploração de crianças em redes sociais, apontando influenciadores e canais que, segundo o autor, lucram com a erotização de menores. A gravação ultrapassou 27 milhões de visualizações em menos de uma semana e gerou uma onda de reações que chegou ao Congresso Nacional.

No vídeo, são apresentados casos como o de um influenciador acusado de manter adolescentes em uma espécie de “reality show” com conotações sensuais, e o de uma criança que teria sido submetida a situações constrangedoras em busca de engajamento. Também é citado o caso de uma adolescente cuja mãe teria comercializado conteúdos íntimos da filha em plataformas como o Telegram.

A repercussão foi imediata: perfis foram suspensos, investigações foram abertas pelo Ministério Público, e o autor do vídeo registrou boletins de ocorrência contra mais de 200 contas por difamação. Ele também anunciou que toda a monetização do conteúdo será doada a instituições que atuam na proteção infantil. A força do vídeo foi tamanha que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, anunciou que irá pautar projetos de lei sobre o tema ainda nesta semana. “O vídeo chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade”, declarou o parlamentar.

Na Câmara, ao menos sete projetos de lei foram protocolados nos últimos dias, incluindo o que institui a chamada “Lei Felca”, prevendo punições para responsáveis e plataformas digitais que promovam conteúdos que adultizem crianças. Outras propostas tratam da criminalização da adultização digital, da responsabilização civil e penal de criadores de conteúdo, e da criação de políticas públicas de conscientização.

No Senado, o debate já vinha sendo travado desde 2022 com um projeto que cria o “dever de cuidado” para plataformas digitais. A proposta obriga empresas a verificar a idade dos usuários, remover conteúdos sensíveis sem ordem judicial e proíbe anúncios direcionados ao público infantil. O projeto foi aprovado no Senado e aguarda análise na Câmara. A senadora Cristiane Britto também anunciou que apresentará uma versão da “Lei Felca” no Senado, com foco na criminalização da erotização infantil em ambientes digitais.

O vídeo “furou a bolha” e mobilizou não apenas políticos, mas também influenciadores, juristas, jornalistas e o público em geral. A discussão extrapolou ideologias e gerou um consenso raro: a necessidade urgente de proteger crianças da exposição indevida nas redes sociais. Especialistas alertam que a adultização infantil pode causar danos psicológicos graves, facilitar crimes como pedofilia e comprometer o desenvolvimento emocional dos menores. A pressão popular, impulsionada pela viralização do vídeo, tem sido apontada como um catalisador para acelerar a tramitação legislativa.

Felca é o nome artístico de Felipe Bressanim Pereira, influenciador digital e humorista de 27 anos, natural de Londrina (PR) e atualmente radicado em São Paulo. Ele começou sua trajetória na internet em 2012 como streamer de videogames, mas ganhou notoriedade com vídeos de reação e sátiras sobre tendências digitais. Seu estilo combina humor sarcástico, crítica social e autodepreciação, o que lhe rendeu milhões de seguidores nas redes.

Além de abordar temas leves e virais, Felca passou a se destacar por tratar de assuntos sensíveis e controversos, como a divulgação de apostas online e, mais recentemente, a exploração infantil nas redes sociais. Seu vídeo sobre “adultização” foi considerado um divisor de águas na carreira, provocando debates legislativos e mobilização nacional. Após sua publicação, o influenciador passou a andar com carro blindado e seguranças, devido às ameaças recebidas.