domingo, 17 de agosto de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba

 



Heteropessimismo: A Busca por Relações Autênticas em um Mundo Desencantado

Por Mariângela Borba

Olá você leitor do #SendoProsperidade,  tudo bem? No artigo da última semana toquei no assunto do heteropessimismo e prometi escrever um pouco mais sobre ele no próximo.  Algumas pessoas me cobraram no privado, dizendo que desconheciam o termo e que gostariam de se aprofundar mais.  Então,  vamos lá? Porque eu sou dessas que promete e cumpre.

O heteropessimismo ou héteroceticismo se trata da nova tendência do comportamento feminino em que as mulheres estão perdendo a esperança nos relacionamentos heterossexuais. Essa tendência reflete uma crescente desilusão com a heterossexualidade,  muitas vezes ligada à imaturidade emocional ou falta de responsabilidade percebida nos homens.  E essa descrença surge das experiências negativas recorrentes nos relacionamentos, a exemplo do ghosting (quando alguém termina um relacionamento ou amizade de repente,  sem dar explicações e cortando toda espécie de vínculos e comunicação.  É como se a pessoa desaparecesse da sua vida sem mais nem menos); sexismo; divisão desigual de responsabilidades e uma percepção de falta de maturidade emocional nos homens. À medida que as mulheres conquistam mais autonomia e se auto desafiam em seus papéis,  a aparente incapacidade dos homens de se adaptarem e evoluírem nos relacionamentos leva um aumento da desilusão.

Estive consultando algumas pessoas e muitas destas pediram para não serem identificadas, então conto o milagre mas não conto a santa,  porque preservar a fonte é tudo! Mas o fato é que a moça – bonita,  inteligente, bem sucedida em sua carreira profissional,  no auge dos seus 26 anos - foi a um encontro com um rapaz, mais ou menos da mesma idade e chegou a cronometrar que durante os primeiros 43 minutos de conversa, o rapaz usava apenas o eu, ou seja, só falava de si. Depois desse tempo foi que ele perguntou sobre a moça que,  logicamente,  achou tudo muito entediante e resolveu não participar do segundo tempo da partida, que ficou no zero a zero. Recém-solteira, ela deu, até,  uma chance para o destino,  mas só fez reforçar um sentimento que já nutria quando estava com alguém.  É como bem versou Caetano Veloso em Sampa: “é que Narciso acha feio o que não é espelho”. Metáfora? Sim, mas que reflete bem a tendência de pessoas narcisistas só reconhecerem e valorizarem o que se assemelha a elas ou ao que confirma sua própria imagem e opiniões.  Essa frase sugere bem uma dificuldade em aceitar o diferente, a alteridade ou qualquer coisa que não se encaixe na sua visão de mundo idealizada.

Em outras palavras,  a frase critica a falta de empatia em alguns, dificuldade em reconhecer a beleza e o valor em outras pessoas ou coisas que não se parecem com o indivíduo narcisista. O narcisista,  nesse contexto, está tão preso à sua imagem e idealização que se torna incapaz de apreciar a diversidade e a complexidade do mundo ao seu redor.  O narcisista valoriza excessivamente sua própria imagem e opiniões,  buscando apenas o que confirma sua grandiosidade.

Surgido através do teórico americano em sexualidade Ass Seresin, o termo heteropessimismo descreve a desilusão de mulheres heterossexuais com os relacionamentos amorosos (https://volcanicas.com/heteropesimismo/). É uma descrença não na possibilidade do amor,  mas especificamente na capacidade dos homens da nossa sociedade atual serem parceiros emocionalmente maduros.

Com diploma na mão,  renda própria e menos paciência para relações que não entregam o básico – respeito,  confiança e divisão justa das responsabilidades -, muitas mulheres já não enxergam nos relacionamentos o mesmo passaporte que suas avós viam.

Vale atualizar a régua: projeções do centro de pesquisa Morgan Stanley (https://www.morganstanley.com/what-we-do/research/myresearch), um dos principais fornecedores de análises detalhadas e integradas, indicam que 45% das mulheres de 25 a 44 anos estarão solteiras em 2030, a maior fatia já registrada na história recente das sociedades.  Essa curva ascendente não brotou do nada, ela acompanha autonomia,  diplomas, renda própria e uma insatisfação coletiva com os relacionamentos heterossexuais.

E por que que elas preferem “ficar” a “assinar”? Ora, quem passa um  scroll rápido pelo noticiário vê: traição em série na vida pública,  violência doméstica atravessando todas as classes,  taxas de feminicídio subindo dia após dia.  Some a isso o desencontro ideológico: pesquisas mostram mulheres cada vez mais progressistas enquanto boa parte dos homens permanecem agarrados a pautas conservadoras, ou seja,  o match quebra antes de acontecer.  Quando confiança,  respeito e transparência andam em falta,  por que trocar uma autonomia conquistada a duras penas por um contrato que entrega menos - ao menos aparentemente?

As mulheres de antigamente,  nossas avós,  se casavam cedo por: segurança financeira, status social, permissão para viver a própria sexualidade. Até os anos ‘80, a maioria das brasileiras não podiam,  sequer,  ter conta bancária ou cartão de crédito sem aval masculino, ou seja,  era como se o casamento fosse passaporte para a vida adulta (https://acervodigital.ufpr.br/xmlui/bitstream/handle/1884/85791/R%20-%20D%20-%20NICOLLY%20CARVALHO%20NOGUES.pdf?sequence=1&isAllowed=y).

Nos tempo atuais,  as barreiras legais caíram,  o mercado de trabalho absorveu mais mulheres e o sexo pré-nupcial perdeu o estigma.  A instituição mantém o ritmo,  mas perdeu o monopólio sobre moradia, proteção e intimidade. Resultado? Casar virou uma entre várias opções e não mais a única porta para o território “adulto”. O casamento perdeu o monopólio sobre moradia, proteção e intimidade, com o aumento de outras formas de relacionamento e arranjos familiares.  A separação entre Igreja e Estado resultou na instituição do casamento civil e a dissolubilidade do casamento também contribuiu para essa transformação (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1z547xjdwo:https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1z547xjdwo).

Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire. Foi secretária executiva do MinC, secretária de Imprensa de Paulista (PE), membro do Conselho Municipal de Política Cultural e do Colegiado Nacional de Teatro, atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, o também jornalista Edmundo Celso.