quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Racismo: "Vou roubei teu celular"

O jovem Iarley Duarte, de Vitória, Espírito Santo, denunciou pelas redes sociais o racismo sofrido por ele e seus amigos em uma publicação no Instagram:













































Lucas Almeida, o autor da postagem, pediu pra tirar uma selfie com Iarley e seus amigos durante o carnaval e ele acabou postando a foto com o meme "Vou roubei seu celular", como se apenas jovens negros fossem capazes de roubar o aparelho eletrônico. Por conta do estereótipo, cada vez mais se mata jovens negros. De acordo com o Portal Geledés, um jovem negro é assassinado no Brasil a cada 23 minutos, e que, entre as vítimas de homicídio no País, 53% são jovens, 77% são negros e 93% são do sexo masculino.


Mas o tiro saiu pela culatra. Internautas, enquanto mandavam mensagens de solidariedade a Iarley e escreviam textos indignados, pesquisaram um pouco mais sobre o Lucas e descobriram que ele estagiava na Studio Vitoria, um espaço de treinamentos funcionais na capital capixaba.

Um dos donos da academia, Fabrício Affonso, é negro.

Lucas foi demitido e Affonso escreveu a seguinte nota na Fanpage da Studio Vitoria:


*NOTA DE RESPOSTA A POSTAGEM RACISTA DE UM DOS NOSSOS FUNCIONÁRIOS*


Gostaria de fazer um pronunciamento em nome da empresa Studio Vitória em relação a uma postagem de um de nossos estagiários no facebook. 

Uma postagem preconceituosa, infeliz e racista.

Eu, Fabrício Affonso, negro, nascido em bairro de periferia da cidade de Alegre, sócio-proprietário da empresa Studio Vitória, considero inadmissível a conduta de qualquer funcionário da empresa nesse sentido. 

Sei o quanto a minha cor é carregada de estigma e sei quantas barreiras tive que enfrentar para chegar aonde cheguei. 

Minha mãe, caixa de supermercado, moradora do morro do Wilton, teve que criar eu e meus dois irmãos praticamente sozinha. Eu, com 17 anos, vim pra capital pra estudar, e só consegui me manter porque consegui com muito esforço a bolsa do PUPT (Programa Universidade Para Todos) e depois ser bolsista do Pró - Uni para cursar a faculdade de Educação Física. 

Durante os anos de faculdade, eu estagiava em dois lugares e ainda assim, às vezes não tinha o dinheiro para o lanche nos poucos intervalos que tinha. Assim que me formei, me juntei a dois colegas para montar uma empresa.

Hoje, depois de cinco anos, estamos finalmente abrindo uma segunda unidade. Tenho orgulho de proporcionar a meus funcionários, a dignidade que qualquer estagiário merece. Um salário maior que o teto do mercado, um plano de carreira dentro da empresa, e total apoio em treinamento e cursos, pagando inclusive suas inscrições e dando nós mesmos cursos periódicos.

Nos interessa ter funcionários competentes, mas também devidamente motivados e valorizados. 

Na hora da seleção dos currículos nossa empresa não possuem cotas para negros. Eles são maioria. 

Conheço meus funcionários a nível pessoal, e acredito que a postagem tenha sido profundamente infeliz, beirando a ingenuidade, mas novamente, a empresa não pode compactuar com esse tipo de comportamento irresponsável e muito menos responder por ele. Podem ter certeza que tomaremos as medidas necessárias. Não nos interessa um funcionário com tal perfil.

Nem a imaturidade, nem o carnaval e nem a bebida é desculpa para o racismo.

Nada é desculpa para o racismo.